terça-feira, 12 de junho de 2012


11 de junho de 2012, segunda-feira.
Despertei por volta das oito e meia e tomei minha ducha gelada conforme meu costume matinal. A uma temperatura de cerca de 15º ou 14º numa manhã de junho, descrevo a sensação do jato de água fria que atinge meu rosto e o corpo todo como milhões de microagulhadas a cada milímetro de pele, um choque de 220 volts em cada minúscula célula do tecido epitelial. Pode parecer uma prática um pouco masoquista, mas o fato é que estes chuveiros gelados matinais me ajudam a despertar definitivamente, e com energia, para o dia novo que tenho a enfrentar diante de mim. Schopenhauer, segundo a linha de pessimismo que dava tom a seus discursos, aconselhou que seus leitores engolissem um sapo todas as manhãs ao levantarem da cama, como forma de garantir que nada de mais repugnante que isso poderia lhes acontecer no decorrer daquele dia. Devo admitir que há em mim certa faceta Schopenhaueriana, mas não é esta a razão que motiva minhas gélidas duchas matinais. Bem, pelo menos não exatamente.
Apesar de ter levantado cedo o suficiente para estudar durante uma hora antes de partir para o trabalho, encontrava-me ainda um pouco indisposto e sem força de espírito para fazer isso – mesmo após meu “banho escocês”. Ocorre que a dor de cabeça me incomodava ainda como resultado da ressaca pelos abusos de ontem; somando-se ao fato de um generalizado desânimo e diminuição da credibilidade em mim mesmo inspirados pelas polêmicas de ontem. Além do mais, era necessário chegar um pouco mais cedo ao trabalho hoje (para compensação de horas de atraso na semana anterior). Aprontei-me e fui de boa vontade ao trabalho, sentimento meio atípico para uma segunda-feira subsequente a um feriado prolongado. Talvez inconscientemente eu soubesse que seria bom estar entre colegas de cartório, escutando as piadas do César ou do Leandro, ou compartilhando meus incômodos interiores com a amiga Rita ou a adolescente Gabriele, que apesar de pouco vivida, tem uma percepção bem parecida com a minha a respeito dessas questões de superficialidade nos julgamentos; noutras palavras, valorização irrefletida de alguns seres humanos em detrimento de outros, na qualidade de "melhores", com base em parâmetros do tipo "vitoriosos" (em contraposição aos que receberam a marca dos "fracassados") . Não consegui me liberar tão fácil desse mal-estar da tarde de domingo, que me acompanhou ainda durante uma boa parte no decorrer do dia de hoje.
No cartório, temos por hábito que o aniversariante traga bolos, salgados ou quaisquer guloseimas para celebrar junto dos colegas durante a tarde, numa pausa agradável e descontraída após o retorno de todos do horário de almoço, no ambiente de trabalho. Numa tentativa de melhorar minha “ecologia interior”, decidi num ímpeto oferecer meu melhor, e aproveitei minha hora de almoço para ir até à Italianinha, perto de onde moro, para comprar uma ciabatta especialmente deliciosa, como só mesmo na Italianinha se pode encontrar. Escolhi o sabor de tomate seco, meu preferido e também dos meus colegas. Caminhei de volta para a região central já com a ciabatta em mãos; dei uma rápida passada na panificadora Santa Teresa que fica bem próxima ao prédio da repartição, comprei uma torta de morango que parecia deliciosa (eu não comi, por não ser pessoalmente chegado a doces – as meninas depois me disseram que a torta estava excelente), além de um bolo “molhado” de abacaxi e um garrafão de dois litros de guaraná. Com todo o volume de sacolas em mãos, atravessei o viaduto Paulina e adentrei o prédio.



Tivemos uma tarde bastante animada entre colegas; é sempre clima de festa quando um de nós leva qualquer coisa para degustar em conjunto no período da tarde. Particularmente aprecio muito esses momentos, pois percebo que ocorre um interessante processo de desconstrução:  chefes deixam de ostentar posição de chefes, funcionários, estagiários, oficiais de justiça ou gente do INSS, todos esquecem do trabalho e passam a extravasar as nobres futilidades que nos fazem humanos:  piadas de bom gosto ou de mal gosto, palavrões, brincadeiras, zombarias e assuntos pornográficos formam uma verdadeira catarse entre todo o grupo de trabalho. Achei bastante proveitoso este meu especial investimento nessa comemoração atrasada de meu aniversário; as pessoas comeram, riram, descontraíram e se divertiram – e também comeram muito, é claro. De minha parte quase não comi, por não ser grande apreciador de sabores doces. Mas comi um bom e saboroso pedaço da ciabatta de tomate seco. Finalmente voltei a me sentir bem por inteiro, esquecendo-me dos sentimentos de melancolia e angústia existencial que carregava no coração desde a tarde de ontem. Tive um ótimo dia de trabalho até o final do expediente, e pude sentir que esses novos bons auspícios eram compartilhados por todos. Experimentei um sentimento de profunda gratidão à minha vida, àquilo que construí para mim em termos de relações com as pessoas, reputação e autenticidade como homem. Meu senso de amor próprio mostrou-se recuperado, de volta a seus patamares normais. Senti-me profundamente grato.
Como trabalhei até mais tarde, não pude ir à academia (estava decidido a não ir, de qualquer forma, por ainda experimentar certa debilitação física e enxaqueca como herança do exagero de ontem na Braugarten). Voltei pra casa, liguei o PC e gastei um par de horas a redigir para este Blog.

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