terça-feira, 19 de junho de 2012


Segunda-feira, 18 de junho de 2012.
Não levantei da cama com o mau-humor usual das manhãs de segunda-feira. Parece que estou aprendendo a lidar melhor com a passagem do meu tempo, tanto dos dias úteis quanto dos finais de semana. Já me martirizei por muitos anos com essa coisa de ter aversão à segunda-feira - cujo precedente sempre foi certa depressão ao final de domingo. Muito dessa forma construtiva e relativamente nova de enxergar o decorrer dos meus dias, creio eu, tenho interiorizado a partir da filosofia budista (não só budista, mas de toda tradição religiosa ou filosófica que valorize o bem-estar baseado na harmonia e simplicidade no olhar, e na alegria de viver o dia de hoje exatamente do jeito que ele é - sem exigências ou julgamentos irracionais e desnecessários).
À tarde tivemos nossa tradicional festa junina no ambiente de trabalho conforme ocorre quase todos os anos desde que fui lotado naquele cartório. Foi uma confraternização animada entre colegas, estando cada um encarregado de levar algo “junino” à festa: bolo de milho, quentão, cuscuz, pé-de-moleque etc. Levei duas ciabattas desta vez: uma de tomate seco e outra de queijo com azeitona. Foi mais um tempo descontraído entre os colegas no trabalho, em que todos comeram e riram bastante em companhia uns dos outros. Minha amiga Tania – que já trabalhou conosco e agora está lotada no cartório vizinho -, apesar de convidada insistentemente por todos, a muito custo decidiu comparecer encontro. A história é longa, mas há um passado de desentendimentos entre ela e a coordenadora, além do juiz titular (que por enquanto está noutra corte, indo hoje ao nosso cartório apenas por conta da tal festa). Ora, as brigas ocorreram pela greve de funcionários a que aderimos há dois anos atrás, só eu e a Tania de grevistas em nosso setor. Sofremos perseguições e assédio moral por parte dos nossos superiores após o movimento grevista, e tanto eu quanto ela tivemos que enfrentar inúmeras injustiças no trabalho, além de precisarmos “engolir muitos sapos”. Obviamente que ficamos bem magoados àquela época com as pessoas que fizeram isso conosco – eu, especialmente, estive à beira de um ataque de nervos ao longo de vários meses. Demos lugar a muito rancor e ódio, e nos deleitávamos em sair para barzinhos com finalidade praticamente exclusiva de maldizer nossos superiores que tanto nos assediaram (e que continuavam assediando...). Os meses e anos se passaram e fui esquecendo todo esse ressentimento – mais uma vez mencionando o budismo que conheci há cerca de um ano atrás, e que certamente trouxe influência decisiva pra mim nesse sentido. Ocorre que a Tania acabou pedindo transferência e foi relotada em outro cartório, bem ao lado de onde trabalho. Ou seja, os chefes que a assediaram não são mais chefes para ela; apenas eu permaneci sob o comando deles. Mas minha amiga parecia irredutível na decisão de recusar o convite, por sentir-se demasiadamente magoada ainda com pessoas pelo passado que já vai meio distante. Liguei pra ela à hora do almoço e disse-lhe que se não estivesse à vontade para ir, então tudo bem: melhor seria mesmo que não fosse. Mas ao mesmo tempo procurei orientá-la no sentido de que a raiva, o rancor, a indignação etc. (por justos que sejam), assim como tudo na vida, tem hora certa pra acontecer, tempo de duração, e tempo para acabar. Além disso nossos “inimigos”, por assim dizer, tinham seu próprio ponto de vista político sobre a greve, ponto de vista este que para eles era o mais correto. Claro que erraram (do meu ponto de vista e do da Tania), mas isso não justifica nutrirmos sentimentos destrutivos no peito pelo resto de uma vida. Ninguém está mais lembrando ou se importando desnecessariamente com o que aconteceu: nem a coordenadora, nem o juiz, nem os colegas, e nem eu que sofri as mesmas perseguições, talvez até mais ameaças se comparado a ela. Só que tudo isso já faz tempo, muito tempo. Disse-lhe então que não fosse, mas que eu lhe falaria como a uma irmã (que não tenho): “vive o dia de hoje, esquece o que já foi... Tenhamos raiva sim, iremo-nos na hora certa, mas que a negatividade não se perpetue indefinidamente. Como cristã, que reflita nas palavras de Cristo ao dizer ‘irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira’”.
 Não sei se estou à altura de dar qualquer orientação útil a quem quer que seja – ainda mais eu, que me considero uma pessoa um tanto desorientada! -, mas senti real necessidade de fazer meu possível para ajudar esta colega tão querida a enxergar a própria vida com olhos melhores; seja isso com o trabalho, a família, os amigos etc. Fiquei realmente muito feliz quando depois a vi se juntando à nossa confraternização, um pouco deslocada é verdade, mas toda sorridente e com sua presença sempre alegre e simpática. Todos a receberam muito bem na festa e o espírito de camaradagem foi geral entre todo o grupo.
Não fui para o kung-fu à noite conforme costumo fazer às segundas-feiras. A enxaqueca ainda me importunava, optei por voltar pra casa e dormir um pouco – cerca de meia-hora. Levantei-me sem saber o que fazer, pensei em ir ao mercado comprar umas latas de cerveja para ficar tomando sozinho em casa (é raríssimo eu beber sozinho em casa, geralmente saio para beber sozinho em algum bar – se tenho que estar só, pelo menos gosto de ver movimento e de ouvir vozes enquanto tomo minha cerveja). Mas já eram cerca de dez e meia da noite e os botecos por aqui estavam fechando. Tomei uma na Miquelina e comprei duas latinhas para tomar sozinho em casa, enquanto acessava a net ou escrevia para este Blog.

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