quinta-feira, 19 de julho de 2012

Guru Pema Sidhi Hum - Pie Jesu Domine

Ontem (dia 18 de julho de 2012) tive mais um dia de trabalho normal. Trabalhei cerca de uma hora além da minha obrigação de horário, e à noite fui à palestra do Lama Padma Samten (Lama budista gaúcho, ordenado pelo mestre tibetano Chagdug Tulku Rinpoche), no Centro Cultural Hiroshima. O tema em pauta foi "Lucidez diante das crises - a meditação como caminho". Preciso dizer que fazia algum tempo que me achava distanciado da prática budista: há semanas que não ia ao Centro de Estudos Budistas e, principalmente, não reservava alguns minutos do meu dia para meditação. Coincidência ou não - e estou convencido de que não -, ao longo destas semanas minha serenidade e lucidez espiritual
se encontraram um pouco embotadas. Deixei-me levar por fúteis discussões egóicas em família sobre religião (minha família, é toda ela evangélica), relacionamentos familiares, minha "solteirice" etc. E há meses atrás, quando eu estava frequentando o centro com boa regularidade e meditando diariamente, estava se tornando raríssimo que minha mente se deixasse perturbar por tais querelas e vaidades humanas, desprovidas de pertinência lúcida e racional. É como disse o proprio Buda: "Não acreditem em tudo o que eu digo, mas testem. Experimentem em suas vidas e analisem, criticamente, se produz frutos positivos e se serve pra vocês. Se for este o caso, aí sim vocês devem seguir estes ensinamentos". Bem, agora eu acho que realmente já posso dizer que "testei" o Budismo; e claro fica que ele para mim é algo que "funciona". A palestra de hoje com o Lama foi como ter voltado ao meu estado anterior de espírito, retomando um olhar mais amável e acolhedor para com todas as pessoas e coisas em meu redor. Estou resolvido a voltar a frequentar o centro e a meditar em constância, e definitivamente não mais me afastar do Dharma como ensinamento para minha prática diária (Dharma: os ensinamentos budistas).




 
Tenho uma estranha espiritualidade; eu diria que ela é estranha justamente por ser uma espiritualidade só minha. Conforme comentei acima, já constatei definitivamente que o Dharma budista é a "lei", o "código de ética" ou "manual do usuário" que melhor funciona para mim ao lidar com minhas ações, pensamentos e energias emocionais internas. Sou realmente budista. Porém não creio em reencarnação, e em minha condição agnóstica quanto ao pós-morte, não tenho a menor ideia do que será depois (se é que alguma coisa "será", nesse depois). Porém, com minha formação (ou formatação?) desde a infância no cristianismo protestante, sendo honesto, acredito que jamais conseguirei desassociar a figura do Cristo de uma eventual continuidade do meu ser após a morte. E pessoalmente eu gostaria, mesmo, que este Cristo acolhedor do pós-morte fosse de fato uma verdade. Normal: quem não se sente confortado em "saber" que, ao morrer, será recebido por um Pai todo-poderoso, onisciente e completo, num estado mental de completude e felicidade permanente, em que todas as perguntas serão respondidas e os segredos da existência e do universo desvelados? Este é o Cristo em que creio. Saber mesmo, eu não sei - sou agnóstico; apenas creio - e crer não é saber. Cremos naquilo que escolhemos por nos fazer bem; não existe "uma verdade" na qual possamos crer. Nas verdades nós não cremos, delas nós simplesmente sabemos. Faz-me bem a noção de um Cristo numa outra vida e por isso eu prefiro crer. Não é uma crença racional, mas puramente emocional e a critério unicamente de meu próprio arbítrio e consciência pessoal. Não é racional no sentido de poder ser provada (a existência de vida após a morte não pode ser provada); mas é racional na acepção de que, se adotada, faz-me sentir bem. Apenas isso. Com isso, concluo que é em Buda que encontrei os ensinamentos para conduzir-me até o fim da vida; e que Cristo - escolhi crer -, me revelará os mistérios de todas as coisas após a morte. Então sou budista para a vida, e cristão para a morte (no sentido de cultivar a esperança de haver um Cristo após a morte). Ser cristão para a vida não me faria sentido, pois a Bíblia e os preceitos cristãos me são totalmente desprovidos de significado, repletos dos preconceitos e ignorâncias próprias da época e civilização em que foram estabelecidos. Partindo-se do princípio de que acreditar no que me faz bem possa ser uma atitude racional, opto por acreditar num Cristo pós-morte além de escrituras antigas, livros, igrejas ou tradições. Para esta vida, no entanto, é necessário uma padronização da minha ética pessoal, de minha maneira própria de conduzir o dia-a-dia. E, nesse sentido, sou iluminado pela lucidez do Dharma e da sabedoria de Buda. Budismo não exige fé e nem tem dogmas (nem mesmo quanto a reencarnação); Budismo é aplicação, experiência. E esses são fatores já perfeitamente manipuláveis e disponíveis agora para mim, em vida.

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